POETRY
The process of writing was always an emotional need since very young. First poems, later short stories and screenplays.
Poetry book published by Artelogy. Click here to order it or please contact.
Não me apetece fumar
Nem enfrascar-me
Em ruas cheias de olhos
Ou becos cheios de cheiros
A pão fresco ou a dejectos.
Não me apetece dormir
Nem matar-me
Em corpos andróginos
Ou sumos caseiros
Com tanto comprimido
Que daria para mandar abaixo
Dois de ti e um quarto de mim.
Seria suficiente.
GARGANTA SÓ
esmago entre os meus dedos
o tempo que vou gastar
em desprazeres e arrogâncias.
o silêncio da minha casa-de-banho
agrada-me mais
do que qualquer orgasmo
que me possam propôr
pra tocar no nirvanae voltar.para - isto
não acredito nas tuas palavras
requintadas e escolhidas.
sons tão remendados atempadamente
abomino.
cravo os meus caninos
nelas
e desfaço-as
como se não consumisse
proteínas há anos.
agora não me ofereçam
prazeres consumíveis
nem amores
com a capacidade de absorção d’um tampão
porque dar-vos-ei de volta
gargalhadas que ecoam
e irei apontar para o mundo
o vosso olho do cu imundo.
UM BEIJO
às vezes perco-me no berço
à procura do silêncio
que antecedeu este vácuo diabólico
remendado por políticos sem amor próprio.
porque
os meus companheiros sucumbem
à doença da pressa
resto eu e os estagnados
que celebram mais uma
greve.
resto eu e o meu gesto.
nem sequer me recordo
da última voz que escutei com tempo.
talvez nem desde que nasci.
sinto que assinaram por mim
um contracto vitalício
para vender a minha liberdade pelo suor dos meus progenitores.
venderam-me e não mo disseram.
pois bem,
agora só me resta procurar o silêncio
em cada estalo camuflado por presentes anos.
agora decoro rostos e imbecilidades
de tal forma que me habilitei
a uma tese académica eterna sobre a azia intermitente.
observo com sarcasmo e delícia
o rejubilar, em breve finito,
dos arrogantes e dos sem auto-estima.
aí
parece-me conseguir já ver a sua pele
a vibrar dos espasmos de culpa
e vulgaridade.
não quero responder
pela ingenuidade dos outros
ou pela falta de atenção.
não vos mostro os dentes
se não me pedirem para vos ouvir.
não quebrem o meu silêncio.
quebram-me o silêncio
e eu quebro-vos
as vossas tão bem soldadas ilusões.
28-08-2014 mas remexido mais tarde
E COM ISTO CHEGUEI ATRASADA AO MATADOURO
a ponta de um cabelo vai abalar-nos. criar expectativas para nós e para o mundo. são inocentes mas duras como quem já passou fome. a carne e a palavra serão a santíssima comunhão do uníssono. somos libertados pela fúria do que é pesado e já foi despojado. somos nós que teremos a mesma origem por simbiose. ah! a puta da delicadeza dos nosso sonhos. ter um medo ensurdecedor de que os sonhos não sejam a nossa realidade do próximo minuto.
A UTOPIA DA NOSSA PAIXÃO
nem os transportes públicos evaporados irão impedir-me que chegue à liberdade. repudio a ideia de pagar para me movimentar, para protestar, para comer. o alimento de falsas promoções mete-me nojo pelo lucro dos porcos. gostava de poder roubar-lhes as pérolas, e como um messias incógnito, converte-las em vinho e marmita para o vizinho de cima que já só lhe é permitido contar os dias e os pedaços de papel higiénico.
ah! se eu soubesse deste mundo ingrato nunca teria deixado-me nascer, só me teria deixado largar sob a forma de aborto nesta sociedade. mas a curiosidade cativou-me e a ilusão, o ideal do pacifismo cegaram-me. ah! se eu soubesse não teria amado metade do mundo, teria distribuído um excerto de cuspidelas e escarretas para ensinar a estas nojentas criaturas o sabor da miséria.
mas quem sou eu para ter este sonhos políticos? não passo de mais uma neste aglomerado de reacionários calmos e formatados. já só me resta ser simples e viver à varanda com um gato no colo e uma espingarda debaixo do braço para disparar bagos de arroz aos cus sujos desta cambada de conas ambulantes.
DIAS DE RAIVA
PÓS
há um certo prazer
em ter os olhos inchados
de paixão
de calor
de suor.
não há preocupação
do baton
do lápis negro
se espalharem
desde que seja
numa envolvente trépida
quente e gasosa
de saliva e de toque
que puxam os orgãos
e o desejo.
há um certo gosto
em fumar o cigarro
com o corpo
ainda nu
ainda cansado.
ALMA DE ORVALHO
a cada palavra tua,
quando te foge
essa alma-velha
de poeta inconformado.
devoro-te com os olhos
com a língua
e com as unhas.
são ingénuas as tuas palavras
sobre a humidade
e o que é o amor.
mas é precisamente por isso
que gosto do teu olhar
perdido e naif.
podes ensinar-me a
pensar que as aranhas
são dóceis,
se me deixares mostrar-te
que sou má pessoa.
BOMBA-RELÓGIO
Corre. Corre. Corre. Eu disse corre. Tu pensas corre. Destrói todas as tuas veias. Perde a saliva em todos os lábios enraivecidos que vires. Mas corre. Deixa tudo para trás. Despe-te. Deixa o teu sexo para os olhos do mundo. Não pares de correr. Grita pelo teu direito à vida. Corre pela tua liberdade. Corre por paixão. Corre até sentires o ácido a corroer-te por dentro numa doce agonia de libertação. Exaustão. Corre até ao fim. A meta promete-te um par de mãos ondulantes e uma língua turbilhante. Corre até a realidade ser só um pensamento à parte.
FORA DE MÃO
para mentes fora de controlo, fazer planos é como jogar roleta russa. não há o privilégio de pensar no acto seguinte, a erupção das emoções dita o destino de cada bala. ah. e tantas acabam cravadas em ossos por sarar. ah! viver sob a pressão auto-infligida por descuido é uma constante impossível de reprimir. o processo evolutivo e íntimo do fumar o cigarro ainda dormente do último estalo dado pelo jogo em falso, é tão, tão delicioso e doloroso.